terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O “novo sindicalismo” e a nova imprensa sindical

Por Midian Bispo*
Com abertura política que pôs fim a quase duas décadas de ditadura militar, os sindicatos brasileiros começaram a se reorganizar de forma diferenciada do que acontecia no pré-64. O sindicalismo "pelego" ou inativo foi rapidamente destituído por suas lideranças ativas, independente de ser mais ou menos negociadoras ou confrontacionistas ( BOITO, JR.:1991)
Ao longo da década de 1980, concomitantemente ao recuo da vigilância governamental dentro dos sindicatos e ao surgimento do "novo sindicalismo"6, crescem as reivindicações com vistas à redemocratização no país e esses movimentos têm seu ponto alto a partir das greves dos metalúrgicos do ABC paulista. No final desta década, mais especificamente em 1987 e 1988, os sindicatos entram nas discussões sobre a democratização da comunicação no Brasil, através do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista que enfrenta o então governo Sarney e tenta furar o bloqueio das concessões de mídia eletrônica no país. Esse sindicato formaliza um pedido oficial de outorga de rádio com o propósito de produzir notícias sob a ótica e para os trabalhadores, em contraposição às matérias veiculadas nos principais telejornais brasileiros. "A proposta dos metalúrgicos evidenciava a percepção dos trabalhadores de que não era mais possível limitar a sua voz aos folhetos e megafones dos portões das fábricas".
É nessa fase em que se situa o período de contraposição da comunicação sindical, que procurava dar a versão dos trabalhadores no momento político em que as entidades sindicais não tinham vez nem voz na imprensa tradicional. A omissão dos veículos de comunicação de massa era respondida com a edição de materiais que resgatavam a visão dos trabalhadores.
Esta etapa da imprensa operária é caracterizada por Ferreira (FERREIRA: 1988) como uma imprensa sindical propriamente dita e diferencia-se das anteriores por dois aspectos que permanecem nos dias de hoje: em primeiro lugar no seu aspecto formal, não é mais feita por operários em uma tipografia ou gráficas cedidas por operários, muitas vezes clandestinamente.Os periódicos passam a ser produzidos em gráficas pertencentes aos próprios sindicatos ou em empresas especializadas. Algumas empresas são especializadas em imprensa sindical como é o caso da Oboré. Do ponto de vista da elaboração intelectual do jornal, já não é mais o operário quem faz a notícia e sim um jornalista, um trabalhador assalariado, o responsável pelo jornal sindical.Ou seja, a figura do jornalista da classe operária, saído da própria classe, sai de cena na nova imprensa sindical.
Outro aspecto muito importante ressaltado por Ferreira ( FERREIRA: 1988: Pág 55) é a mudança no conteúdo do jornal operário:"Se, por um lado, continua a divulgar os problemas atinentes ao operariado, por outro tende a apresentar as proposições das diretorias ou seja, do ponto de vista de uma linha opinativa, estaria mais predisposta a seguir a linha da diretoria de turno e não da categoria que o sindicato representa".
Do ponto de vista do conteúdo deve-se assinalar a prevalência do fator econômico sobre o político.O forte dos jornais sindicais, sobretudo os cutistas, que passaram a ser elaborados ao longo da década de 1980 são as reivindicações econômicas as campanhas salariais e o fortalecimento da CUT, maior detentora de sindicatos afiliados. Assim colocam-se também as denúncias contra o governo e os patrões.
Também, a partir desse período, a comunicação sindical extrapola os materiais impressos. No começo da década de 80, aparecem os primeiros vídeos e, no começo dos anos 90, a exemplo do que já acontecia no sindicalismo rural, os sindicatos urbanos passam a utilizar outros veículos, comprando espaço em rádios comerciais para colocar no ar seus programas como os metalúrgicos e os bancários7 Diferentemente do que aconteceu em países como Chile e Argentina, somente em 1995 o movimento sindical e popular passou a dar atenção a outras possibilidades, como a utilização de rádios livres para divulgação dos seus programas.
No final da década de 90, a comunicação sindical no Brasil atingiu o estágio da profissionalização com redações informatizadas nos jornais das principais categorias do país, o que faziam com que estas se distanciassem, e muito, das antigas redações sindicais, onde apenas um ou uns poucos diretores se encarregavam de todos os textos.
Hoje, a imprensa sindical procura chegar à totalidade dos trabalhadores e por ela ser entendida. Continua sendo o elo entre a categoria e a direção do sindicato e reflete o grau de luta e trabalho da categoria. Compõe-se para isso, de vários instrumentos de comunicação: jornais regulares, boletins mensais, quinzenais, semanais e diários, rádios, carros de som, sites na internet, volantes, folders e folhetos, que são distribuídos e usados em greves, manifestações de protesto, de eleições, e em outros eventos.
De acordo com dados da Central Única dos Trabalhadores – CUT -, hoje são editados mensalmente cerca de 30 milhões de jornais cutistas no Brasil. A comunicação sindical assumiu tamanha importância que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE - incluiu o item imprensa sindical em seus levantamentos. Isso não significa, contudo, que essa comunicação não apresente problemas.

* Midian Bispo é jornalista e estudante da especialização em Gestão da Comunicação Organizacional Integrada-UFBA

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