sexta-feira, 19 de agosto de 2011

As crises são constitutivas do capitalismo

A primeira compreensão que devemos ter quando debatemos o capitalismo é que ele é um sistema onde as crises são constitutivas do seu funcionamento. Não há capitalismo sem crises. A outra compreensão que devemos ter é como o capitalismo se organiza do ponto de vista estrutural. Para visualizarmos isso é preciso entender a composição técnica ou orgânica do capital, ou seja, como o capital fundamenta suas referências para ter a capacidade de acumulação e reprodução dentro da sociedade. Tentarei explicar em poucas palavras como esse processo acontece e como ele responde porque a crise da década de 1970 se abate com mais intensidade nas economias capitalistas mais avançadas.

No processo de acumulação do capital, uma parte é capital constante (meios de produção) e a outra parte é capital variável (força de trabalho). Sendo assim, a composição técnica do capital é dada pela relação entre os meios de produção e a força de trabalho. O capitalismo é justamente o responsável pela transformação dessa relação através da tecnologia e qualificação do trabalho, tornando-se um sistema de reprodução ampliada. Neste sentido, as constantes transformações ocorridas na composição técnica do capital se configura como um processo de destruição criadora, onde o pretérito tem que ser transformado pela incorporação da tecnologia. A tendência na composição técnica do capital é que o capital constante se eleve numa proporção superior ao capital variável, justamente porque a implementação da tecnologia faz com que os meios de produção sejam potencializados e a força de trabalho seja reduzida. Se os dois crescessem na mesma proporção haveria um cenário de pleno emprego, mas a lógica do sistema capitalista é operar abaixo do pleno emprego para que ele tenha o controle da oferta e demanda por postos de trabalho. É importante ressaltar também que os dois pilares fundamentais para a mudança da composição técnica do capital são a concorrência e o crédito. Eles são as molas propulsoras do investimento da grande empresa, que é a unidade de produção do sistema capitalista.

Podemos pensar ainda que há uma certa contradição nessa lógica, que penaliza a classe trabalhadora. O trabalhador produz e reproduz a sua própria forma de exploração, produzindo tecnologia e gerando a mais-valia para que o capitalista possa adquirir mais tecnologia e ir substituindo o trabalho vivo pelo trabalho morto (máquinas). Porque a receita básica do capitalismo é a aplicação do capital, mais os meios de produção, que gera mais capital. É a partir dessa perspectiva que ele se reproduz e se não houver a etapa dos meios de produção e o capital gerar mais capital sem ter a necessidade de ter máquinas, mão-de-obra e infraestrutura há o alcance do cenário ideal para o capitalismo. Agora chegamos ao ponto que queríamos.

A crise da década de 1970 foi construída historicamente e podemos considerar como um marco importante o período a partir da Segunda Guerra Mundial, quando a ajuda norte-americana a alguns países europeus e ao Japão, através do plano Plano Marshall, com o objetivo de ganhar espaço na disputa com o comunismo e aumentar o seu mercado consumidor, proporcionou o crescimento desses países, que na década de 1960 começaram a disputar espaço com os norte-americanos e a construir um mercado financeiro forte fora dos EUA, gerando uma liquidez de dólar no mercado internacional. Esse processo levou os EUA a estabelecer a inconversibilidade do padrão dólar-ouro, em 1971 e, posteriormente, a situação foi agravada pela crise do petróleo, em 1973, que fez com que houvesse um descontrole da taxa de câmbio e do fluxo de capitais e como já havia uma gobalização das relações de mercado naquele período, a crise afetou diretamente a diversos países que dependiam em grande escala das importações dos EUA, principalmente os mais desenvolvidos, que negociavam grande parte dos seus produtos com o maior mercado consumidor do mundo. Como foi dito no início desse texto, as crises são constitutivas do capitalismo e mesmo as grandes potências econômicas mundiais não estão blindadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário