terça-feira, 30 de agosto de 2011

Porque os juros elevados prejudicam a classe trabalhadora

O Brasil possui uma das maiores taxas de juros do mundo, 12,5%, mas quando o jornal televisivo noticia que o governo aumentou ou reduziu a taxa de juros, muitas pessoas se perguntam o que isso influencia nas suas vidas. Isso porque o máximo de informação que o jornal transmite é que foi uma medida econômica adotada para controlar a inflação. Compreende-se que a notícia dada dessa forma diminui a possibilidade de questionamento porque foi uma medida tomada com o intuito de controlar a inflação e toda a sociedade é a favor desse controle. Porém, a questão é um pouco mais complexa.


Os juros do Banco Central, conhecidos também como taxa selic, servem de parâmetros para os investimentos internos realizados pelas empresas. Quando eles são altos as empresas repassam os percentuais para os preços dos produtos e eles se tornam mais caros para os consumidores, inibindo o consumo. Por isso o aumento dos juros é a principal alternativa neoliberal para o controle da inflação. No entanto, esse aumento é responsável por diversas consequências desastrosas para a classe trabalhadora.



Primeiro é preciso ressaltar que o controle da inflação a partir do aumento da taxa de juros é uma receita do conservadorismo neoliberal. Quando o neoliberalismo foi aprofundado no país, na década de 1990, a principal medida para o controle da inflação era o aumento da taxa de juros, que chegou a 45% em 1999. Aliadas ao câmbio flutuante e as metas de superávit primário, as altas taxas de juros estão entre as principais responsáveis pela falta de desenvolvimento econômico e social do país.



Os juros altos do Brasil atraem muitos dólares de investidores internacionais para o país, mas é um dinheiro que não é traduzido em produção porque é aplicado no mercado financeiro ou especulativo. É um tipo de investimento de curto prazo que não tem preocupação com o investimento produtivo, mas apenas com a obtenção de altos lucros. O investidor ao invés de construir uma industria de sapatos, por exemplo, que gera emprego na própria empresa e em outros setores e dinamiza a economia, opta por ter uma rentabilidade maior e em menos tempo através do mercado financeiro e não ter que se preocupar com a infraestrutura da fábrica, contratação de trabalhadores, comercialização do produto e ainda esperar um determinado período para começar a ter lucro. Por isso os juros altos desestimulam o investimento industrial e incentivam o capital especulativo. Isso faz com que menos empregos sejam gerados porque indústrias deixam de ser instaladas no país, contribuindo para a manutenção ou aumento dos índices de desemprego.



O pagamento das altas taxas de juros pelo governo brasileiro também se constitui como um problema importante enfrentado pelo Estado porque é um dinheiro que deixa de ser investido em bens de consumo coletivo como saúde, educação, previdência, seguridade, assistência, habitação, saneamento, para ser destinado ao enriquecimento daqueles que aplicam no mercado financeiro, que são os que compõem a classe rica deste país. Atualmente, o Brasil paga de juros o equivalente a 6% do seu Produto Interno Bruto (PIB). Esse valor seria suficiente para cobrir os custos de 15 Programas Bolsa Família. O pagamento dos juros beneficiam menos de 1% da população brasileira e o Bolsa Família atende mais de 50 milhões de pessoas.



As altas taxas de juros têm uma influência direta na vida das pessoas porque é responsável pelo direcionamento do dinheiro que seria investido em bens de consumo coletivo e na melhoria da qualidade de vida da população, principalmente através da geração de emprego e renda, mas é destinado ao enriquecimento de um grupo acostumado com os privilégios sociais, que são os ricos deste país.

Um comentário:

  1. Esse texto foi publicado na 7ª edição, agosto e setembro, do jornal Associação Comercial e Industrial de Alagoinhas (ACIA),distribuido em Alagoinhas e demais municípios da região.

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