terça-feira, 16 de agosto de 2011

Precisamos de um projeto de industrialização

A primeira questão na discussão sobre a industrialização do Brasil é compreender que esse processo é uma construção histórica e política. A partir daí é possível perceber como o país atravessou momentos de considerável crescimento econômico, mas não foi capaz de converter os benefícios desse crescimento em desenvolvimento social. Entre 1930 e 1980 o Brasil foi o país que acumulou os maiores índices de crescimento, mas as decisões políticas fizeram com que se tornasse um dos países com as maiores desigualdades sociais do mundo. Mesmo o dinamismo e a mobilidade social ao longo desses anos não resultou na redução dessas desigualdades.



A partir da década de 1920 o Brasil transitou de uma economia agrário-exportadora para uma economia industrial capitalista. A força econômica do período cafeeiro foi responsável por iniciar uma infraestrutura, ainda precária, mas que era preciso para o escoamento da produção. Grande parte do resultado da economia cafeeira era investido no meio urbano e fez como com que algumas cidades adquirissem uma estrutura diferenciada em relação as demais que não tinham o café como um dos principais produtos da economia. Com a Grande Depressão de 1929 o café mergulhou numa crise que lhe roubou a primazia de que gozava, mesmo com as medidas adotas pelo Estado para contê-la. A chegada de Getúlio Vargas ao poder em 1930 teve como um dos objetivos principais o combate ao poder político dos cafeicultores e iniciar um processo de industrialização a partir da siderurgia, exploração de petróleo, energia hidrelétrica e, mais tarde, da indústria de máquinas e equipamentos. Vale ressaltar que o processo de industralização brasileiro tem uma herança escravista, aristocrática e sem reforma agrária. Por isso possui característas peculiares em relação ao processo de industrialização de outros países. Além disso, o Brasil não participou da primeira revolução industrial, iniciada na Inglaterra. Portanto, houve uma industrialização tardia no país.


Outro ponto importante a ser ressaltado está relacionado ao fato de que o Brasil ficou de fora do Plano Marshall, que foi instituído pelos EUA após a Segunda Guerra com o objetivo de reconstruir alguns países, principalmente os europeus, favorecendo diretamente o desenvolvimento do setor industrial. Pois bem, o processo de industrialização iniciado com Getúlio teve continuidade com Juscelino Kubitschek com implantação do Plano de Metas, que privilegiou especialmente a indústria automobilística e que também movimentou o setor de serviços, peças e equipamentos. No período do governo de Juscelino houve uma profunda modificação na estrutura industrial, alterando as relações inter-setoriais em favor de bens de produção e do setor de bens duráveis. A grande questão é que na proposta de Juscelino apenas o desenvolvimento econômico daria conta dos problemas sociais do país, mas isso não aconteceu. Juscelino não foi capaz de associar o desenvolvimento econômico ao desenvolvimento social.


Os militares deram continuidade ao processo de industrialização e setores como a metalurgia, mecânica, material elétrico e de comunicações, química e material de transporte pesado, passaram a ter uma participação importante no Produto Interno Bruto do país. O Brasil chegou em 1980 com um desenvolvimento econômico que superava a China, a Índia e a Coréia do Sul e só não era superior aos países líderes do desenvolvimento capitalista mundial (EUA, Japão, Alemanha Ocidental, França, Inglaterra) pela inexistência no Brasil de uma multiplicidade de indústrias de "ponta" na área de bens de capital (industria de máquinas seriadas, computadores, máquinas de controle numérico e etc. ). Durante o período da ditadura militar a dívida externa brasileira também cresceu de forma elevada tanto por conta dos empréstimos do setor privado como dos empréstimos adquiridos pelo gorverno. O sistema financeiro também atendeu com eficiência as necessidades de crédito corrente para a produção e consumo.


Um último ponto que gostaria de ressaltar é com relação ao processo de desindustrialização do Brasil, iniciado durante o governo Collor e que foi dado continuidade com bastante empenho no governo de Fernando Henrique Cardoso. Esse processo se deu principalmente pela falta de interesse desses governos em construir novas indústrias e pela privatização das empresas estatais brasileiras. Portanto, se com o investimento produtivo e o crescimento do país não houve uma política de inclusão e redução das desigualdades até a década de 1980, a partir do governo Collor e no governo de FHC o abandono do projeto de industrialização aprofundou as desigualdades, especialmente porque não havia mais o dinamismo e a mobilidade social que existia até a década de 80, quando a industrialização era o principal motor do desenvolvimento do Brasil.


O grande desafio do governo atual é retomar esse processo de industrialização através do investimento produtivo, que foi iniciado timidamente no governo anterior principalmente com a indústria petrolífera e naval, para que possa ser gerado emprego e renda por conta do efeito multiplicador. O Estado deve ser o coordenador desse processo e tem que começar a adotar medidas cambiais para proteger a indústria nacional, incentivar o investimento produtivo e desestimular o investimento no capital financeiro. Paralelo a isso o Estado também deve investir em pesquisa e tecnologia, privilegiando o processo educativo para que deixemos de ser um país dependente de tecnologia importada.








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