quinta-feira, 28 de julho de 2011

A crise atual começou na década de 70

A crise de 2008 foi a continuidade da crise ocorrida na década de 1970, quando as principais potências mundiais (Estados Unidos, Alemanha, Japão, Inglaterra) viveram um período de descontrole da taxa de câmbio e do fluxo de capitais, de uma inflação em dólar e uma liquidez de dólar no mercado internacional por conta do avanço internacional da economia de outros países, além dos EUA. Isso fez com que o valor do barril de petróleo passasse de U$ 3 para U$ 30 em seis anos. Como os EUA eram um dos maiores consumidores e importadores de petróleo do mundo, houve uma crise acentuada em um dos principais setores produtivos norte-americano, o automobilístico. O efeito disso aconteceu em cadeia e os demais setores produtivos sofreram o grande impacto, interferindo diretamente na classe trabalhadora com a redução de salários ou geração do desemprego. Já que os EUA também consumiam em grande quantidade demais produtos de outros países, a crise norte-americana interferiu no processo produtivo mundial.



Para combater a crise de 70, as principais potências mundiais apresentaram um projeto que resposabilizava o Estado e os sindicatos pela crise e por isso seria necessário reduzir a influência dessas instituições para que o estado de bem-estar social fosse estabelecido. O início de um novo modelo político-econômico, o neoliberalismo, foi sustentado a partir de um discurso do previlégio da liberdade individual e do livre mercado no controle da economia. O Estado não deveria interferir na economia e tratar apenas das questões relacionadas ao cumprimento dos contratos, garantia da propriedade privada e da segurança. Já os sindicatos não deveriam interferir na negociação salarial porque esse processo deveria ser regulado automaticamente pelo mercado, pois a elevação ou redução salarial se daria de acordo com a oferta e demanda pelos postos de trabalho. Para os neoliberais, os sindicatos também interferiam diretamente na liberdade individual na medida em que a decisão coletiva não permitia que cada pessoa pudesse decidir, indivivualmente, qual contrato de trabalho era mais interessante. A proposta neoliberal era a eliminação das formas coletivas de atuação.



Nesse sentido, o desenvolvimento da política neoliberal a partir da década de 70 e principalmente nas décadas de 80 e 90 fez com que houvesse uma nova arrumação na divisão internacional do trabalho e diversas indústrias deixaram países como os EUA e foram transferidas para outros países com menores custos de produção. A globalização das cadeias produtivas e a integração financeira estabeleceu uma separação entre os países que expandiram o consumo e o investimento financeiro e aqueles que expandiram o investimento produtivo. Além disso, os norte-americanos deram continuidade a uma política de sobreposição do capital financeiro em relação ao capital produtivo, que fez com que a especulação financeira fosse um dos principais componentes da economia mundial. Vale ressaltar que essa citação com relação a conjuntura norte-americana é propositiva nesse contexto.



Esse resgate histórico é importante porque quando digo que a crise de 2008 foi a continuação da crise de 70 é justamente porque as medidas adotas para combater a crise anterior foram responsáveis pela existência da primeira grande crise do século XXI. Pois a crise de 2008 foi provocada pelo sistema financeiro norte-americano, gerada a partir do aumento do crédito bancário, do consumo, do endividamento das famílias e da especulação imobilária. Mesmo porque o neoliberalismo se apresenta de formas variadas, de acordo com as medidas adotadas por cada país, e nos EUA o receituário foi mais completo que nas outras nações neoliberais.


A quebra de grandes bancos norte-americanos, em 2008, provocada pelo calote dos seus credores, pricipalmente com relação aos investimentos hipotecários, impactou profundamente no sistema financeiro internacional. Como nos EUA cerca de 70% das famílias investem no capital financeiro, uma crise nesse sistema tem como resultado uma crise de consumo e como os EUA consomem uma grande parte daquilo que é produzido mundialmente, a crise é internacionalizada de forma direta.



O outro grande problema nesse processo é que o papel de alguns Estados no período da crise de 2008, a partir do impacto ocorrido em cada país, teve o mesmo princípio do que foi adotado com a crise de 70. Houve o investimento para o fortalecimento das instituições financeiras ao invés do investimento no capital produtivo, que gera emprego e incentiva o consumo e a produção. Os empréstimos para as instituições financeiras foi a principal medida adotada pelo Federal Reserve System (FED), o Banco Central dos EUA. O Estado foi importante para salvar o mercado e o sistema financeiro. Por que isso é um grande problema? Porque não houve a percepção de que os países que foram afetados com um impacto menor pela crise foram justamente aqueles que apostaram menos no sistema financeiro e mais no sistema produtivo. Para provar que o receituário neoliberal novamente não deu certo tomemos como exemplo a atual situação dos EUA, que atingiu o teto histórico da dívida pública, no valor de 14,3 trilhões de dólares, praticamente empatando com o PIB do país, ou as crises da Grécia, Portugal e Espanha (Zona do Euro). A Espanha está com 25% de desemprego da população economicamente ativa, chegando a 45% entre os jovens de até 25 anos. Pode ser que a crise de 2008, iniciada na década de 70, ainda não tenha alcançado o seu auge.

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